A Vida Continua

25/06/2020

A bonança, ajustada para calmaria, no Brasil, sempre traz uma sensação do fim de algo ruim ou agitado, como uma verdadeira tempestade, ou então uma pandemia, que devasta também tudo que encontra pela frente.

A vida continua, apesar dos danos causadas por uma catástrofe, sempre haverá uma perda, material, sentimental e financeira.

A situação atual ainda está longe de uma calmaria externa, entretanto podemos tratar de nosso interior e deixar a tempestade fora de nossa paz interna.

Isso não quer dizer que devemos abandonar os cuidados com a própria segurança e a dos outros.

Vale lembrar que há 100 anos durante a crise da gripe espanhola, os cuidados pessoais e com os outros foi ignorado o que gerou uma segunda onda, que levou a vida de 50 milhões de pessoas mundo a fora.

A diferença é que hoje a informação é aberta e acessível por todos em tempo real.

A vida continua, apesar de todos os riscos e incertezas, que já eram preconizadas no mundo VUCA (Volatility, Uncertainty, Complexity and Ambiguity).

A pandemia escancarou o que já era sabido, mas não assumido ou entendido.

Pensar que foi a pandemia que nos trouxe, um mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo, seria quase uma heresia. Afinal esse conceito foi introduzido em 1987 por Warren Bennis e Burt Nanus, para descrever teorias de liderança, após o término da guerra fria.

O mundo já vem dando sinais VUCA e nós não havíamos percebido!

A pandemia veio para acelerar e nos dar alguns sinais.

O primeiro sinal levou o ser humano a entender o significado de um mundo conectado, não pelos meios tecnológicos virtuais, mas pelo ar que respiramos.

Isso mesmo, somos todos usuários do ar, não importando a classe social, e outras categorias que os humanos criaram para dizer que existe diferenças entre nós.

O isolamento definitivo das pessoas, que aparentemente não funciona, afinal Buda Sidarta, se iluminou quando saiu do isolamento. Todavia dizer que seu retiro não lhe ajudou a escutar seu interior e a partir dessa introspecção ouvir os outros, seria equivocado.

O isolamento agiu como o segundo fator de tomada de consciência e influência no comportamento humano. Gerando uma reflexão que somos todos iguais diante do desconhecido.

Ao sabermos que o mundo está literalmente no mesmo barco e que ninguém está seguro, pois um depende do outro, traz um aprendizado, que se mantido pós crise, propiciará uma exponencial de consciência coletiva a partir do individuo, passando pela família, atingindo um bairro, que influenciará uma cidade, que poderá permear para um estado, influenciando um pais e finalmente o mundo; a viver a plenitude do coletivo, sem diferenças respeitando o uno.

A vida continua, e aponta para o terceiro sinal: A diversidade; tema que nunca esteve tão em pauta como hoje, em função da necessidade de reconhecermos que todos precisam se unir no combate ao mesmo inimigo.

Tenho esperança que esse seja o novo normal, ou melhor que voltemos a nos respeitar como semelhantes.

A vida continua, e mesmo que termine para alguns, ela estará viva na memória, e no legado deixado por pais, mães, filhos, filhas, amigas, amigos, vizinhos, vizinhas, de todas as classes.

A vida coletiva começa a tomar conta da mentalidade das pessoas, até então centrada no individualismo exacerbado.

A crise nos mostra que o coletivo se fortalece novamente.

A vida continua, por enquanto distanciados, mas juntos.